segunda-feira, 24 de setembro de 2012

As tetas da princesa

Agora diz-se top less mas sabemos que o top é prótese e as mamas, da pessoa, enquanto forem. As mamas da princesa são reais, monárquicas, devem ser olhadas portanto como os reis eram, como que tendo um sinal impresso da sua origem divina, o holograma real da distância de classe. As mamas são de algum modo mais que criação de um deus ou de Deus, a expressão da sua ordem na terra, da sua desordem. As mamas da princesa devem ser respeitadas como outras partes do corpo da princesa, o cu por exemplo para não falar da pachacha, por exemplo. É inimaginável ver-se toda a família real em biquíni, principalmente o príncipe, mas também a rainha – o que seria da rainha com biquíni, seria ela mesmo e logo o epicentro do seu próprio tsunami. Aliás o biquíni já é um modo de retirar à monarquia o seu carisma real, de realeza e colocar essa aura pelas ruas da amargura ou mesmo entre as filas intermináveis de praticantes de bronzeado. Essa é a hora de ponta específica do verão e faz tão mal como a batata frita, sendo portanto uma prática generalizada, ao contrário da missa que tem muitos não praticantes. A monarquia tem de andar sempre de gola alta mesmo que seja no pino do verão, disse o Monsenhor Lefebvre – não confundir com Henri Lefebvre - ainda lúcido. É na gola alta que está o pedigree que não é nome de cão. Aliás deveria dar o exemplo e no pino do verão, por assim dizer, cobrir-se de golas altas dos pés à cabeça. De facto esta história é chocante, a da princesa de mama ao léu, e não apenas para as revistas das coisas chocantes que por assim dizer relatam a humanidade dos grandes como um futebol de desamores, quer dizer, relatam naquele sentido de que humanidade e disparate se conjugam e também naquele outro de que humanidade e mediocridade também se conjugam amiúde - é uma palavra que temos de usar, amiúde, não há dúvida que a repetição é a nossa condição e não falo de répétition, que é um fado meu, falo mesmo de acordar todos os dias. 
Esta problemática das mamas, como a de qualquer parte do corpo, mas esta em particular, associa-se a coisas graves e a coisas menos graves. E obviamente à beleza. Ainda não ouvi um comentário à beleza das mamas da princesa nem às mamas em si, só se lêem comentários ao top que estava less. Mas nem ao top em si há comentários, porventura porque seria publicidade encapotada, o que essas revistas passam a vida a fazer, nem fazem outra coisa. Creio que neste assunto das mamas se estivéssemos em período eleitoral a princesa ganhava, mesmo que não fosse numa percentagem votante a pensar grande - poderia ganhar digamos nos pesos leves, se houvesse essa categoria no campeonato mamário. De qualquer forma as tetas são duas, o que por exemplo os homens podem dizer dos testículos, são dois, mas não podem dizer da gaita. E os testículos, mesmo em top less, nunca terão a beleza de um par de seios, têm aquela costela amarfanhada pentelhuda e ainda não há que lhes meta silicone – não tardará claro e chamar-se-ão as bolas de borracha sub-mastro, para usar um termo naval que, entre nós, é recorrente desde Vasco da Gama.
Mas não esqueçamos que as mamas são um órgão vital, amamentam e quando não começamos por aí a nossa vida exterior, quando abandonamos interior e a placenta nos deixa, mesmo podendo fazer o nosso caminho sem relação directa, labial, com a mama, parece que se fica sem as resistências adequadas e certamente sem o que na escola de chupar faz a diferença entre a consciência real de um mamilo e a de uma borracha – se fizessem isso com os gelados, se lhe tirassem leite e fruta, cacau, o que aconteceria ao planeta verão? A borracha é um progresso, como o top aliás. Sabemo-lo.
Estou a pensar na princesa agora com fio dental ou mesmo sem fio dental. O que seria mostrar a ausência do fio dental? Os fotojornalistas de coisas íntimas e ínfimas só sonham com isso. Mas mais escandaloso seria mostrar os intestinos da princesa através de uma ecografia intestinal clandestina do tipo sensacionalista, isto é acrescentado rosa ao rosa intestinal através do fotoshop pluricromático. O que nos diria o intestino da princesa de especificamente monárquico? As suas voltas seriam como as ameias da coroa que lamentavelmente usa pouco? Eu acho que a princesa deveria usar gola alta, coroa e não abrir a boca para não mostrar o céu-da-boca real. Esse seria o comportamento adequado. Não é ela princesa? Para que se meteu a top less? Será porque uma princesa inglesa só poderá fazer top less por serem palavras inglesas? Se estivesse com as mamas à mostra e não em top less não se passava nada. As pessoas diriam: está com as mamocas de fora e mais-nada, ou então, as mais conservadoras diriam, não tens dinheiro para o soutiã?
Não quero lembrar as coisas tristes em relação às mamãs e porque atraem as mamas doenças mortais. Porque exactamente são fonte de vida e dor é aí que a morte ataca. E a morte está-se nas tintas para o top less, não se vê muito esta senhora omnipresente e potente, nem a ler sensações, nem a frequentar painéis publicitários, não desmorde da sua coerência nem do caminho implacável que traça para cada um. Esta questão também são mamas, as mamas de que todos vivemos e que deveríamos, mesmo as mais banalizadas pela sorte do flash – as tratadas a preto e branco sem flash nem digital são as mais artísticas claro, com destaque para as tratadas a sépia - olhar com doçura reverencial (isto do lado da idade que em cada um faz cantar a memória de algo que já não pode ser memória sensorial, mas a imagem projectada disso para trás no tempo).
O que me choca mesmo é o silicone e pensar que muita gente faz amor, ou literalmente pratica borrachices, entre borracha e borracha. Bem sei que a borracha é dúctil mas também sei que não se eriça, que o que se eriça necessita de esticar a pele.
Olho para as mamas da princesa e fico triste, são muito pequeninas, como poderá ela vir a ser rainha? E eu até gosto de pensar naqueles que têm esse privilégio de todos os dias colher um par de maçãs sem que elas desapareçam. Oh Senhor: perdoai-me o disparate, será também Vosso e consubstancial?
fernando mora ramos

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