quarta-feira, 29 de agosto de 2012

O nu de Harry, os assessores e as camas do IKEA

16.000 cavalos-marinhos mortos e secos, para exportar para a Ásia. E onde se passa esta mortandade? No Peru. Um animal extraordinário, beleza pura para peruanos e outros povos de alma índia, que, numa outra cultura, é um bem ansiado como elixir erótico, leva os peruanos pobres ao exercício de uma mortandade em massa e alguns outros mais bandidos a organizar a distribuição globalizada clandestina, notas contadas nas mãos sujas de mercado negro destes últimos que não chegam por certo aos pobres caçadores na mesma medida.
16.000 cavalos-marinhos, estão a vê-los, naquela dança estranha, na vertical, na água móvel que lhes determina o ritmo? As imagens na tela aquosa ganham um fascínio próprio, de câmara lenta com lente que densifica, fantasia inexplicável da criação, como que parida de um nada cósmico preexistente que tudo contém como possível.
Paul Ryan, o segundo do candidato conservador às eleições americanas afirma sem papas na língua que a Europa é medíocre. Não diz o mesmo dos chineses, comandados pelo partido único gestor de um capitalismo americanizado vencedor, nem do Texas, nem da Índia das castas, nem se lembra da querida Arábia Saudita que construirá em breve uma cidade só para mulheres, já que nesta Arábia que não é das mil e uma noites trabalhar ao lado e com homens a lei primitiva não permite. Segundo a sua biografia fez de tudo, vendeu hambúrgueres e foi paquete, grandes experiências, self made man. E a Europa é medíocre, diz Paul Ryan, porque não tem ambição. A ambição do lobo solitário, daquele tipo que quer escalar os himalaias de riqueza que surgem como oportunidade a cada um se cada um for obcecadamente ganancioso e destinado a winner, coisa de genética da predestinação. O indivíduo individual tem de ter como pátria ilimitada a sua liberdade de vencer. O que é definido como interesse de todos deve sujeitar-se ao império desse cada um que vença e estabeleça os limites de vida dos outros. Este senhor defende que o bem público é secundário, dispensável, descartável e que a sociedade é um espaço de predação em que o mais violento/esperto, desprovido de escrúpulos e qualquer referência ética – é o bem comum a defini-la – pode e deve servir-se de tudo e dos outros para impor a sua ambição. Ao preço do que for. Se um outro ambicioso, maior do que ele próprio seja, o crucificar num destes tiroteios frequentes nos EUA com cinco balas em forma de cruz que dirá Ryan antes de soletrar o último desejo? Falará dos limites da liberdade de cada um? É que não há forma de enriquecer apenas trabalhando, não existe na história económica forma de acumulação primitiva de capital que não seja ilegítima, sabe-se. Este Ryan é daqueles tipos que usará certamente o próximo massacre – a produção está em alta - como oportunidade de venda de armas. É uma criatura rupestre. Ofereçam-lhe uma tanga europeia, daquelas que o Presidente Barroso criou há muito, sempre será um avanço civilizacional.
No jardim da Estrela a IKEA lança a sua nova vertente de negócio, Hoteis sob a forma de hostal, dinheiro a “construir” a partir da bolsa da massa dos turistas errantes, transportadores de mochilas e parentes. Meia dúzia de incautos, deitados em camas colocadas na álea central do jardim, casais na maioria, declaram que aquela dormida ao ar livre vai cimentar os respectivos amores, conjugais nupciais ou pré, para o resto das suas vidas. Não há melhor publicidade, longos minutos de direito de antena em todas as televisões para esta publicidade encapotada – que lei para esta ilegalidade? Valia mais que o IKEA dotasse de boas camas e mesmo casas, terá dinheiro para isso, toda a população dos sem-abrigo da capital. E também que as televisões não fossem atrás da primeira suposta parvoíce que lhes garante audiência fácil. Na realidade o golpismo, mais light ou mais violento, é a “ética” do negócio e este não tem fronteiras, bem público e interesse privado dando as mãos na mentira perfeita. O kitch tem destas coisas, por cá chama-se saloiice burgessa, também em franca expansão.
O Príncipe Harry foi apanhado nu numa coboiada em Las Vegas, sairá à mãe que era de poucas monarquias nas maneiras? No Sun, a primeira página do seu corpo inteiro fez transbordar de excesso a alta taxa libidinal voyeurística que mantém os ingleses nos limites da adrenalina legal, praticantes obstinados que são da dose de perversão definida como politicamente correcta nos domínios de uma especificamente anglo-saxónica e humorada tensão vital porno abrangente. Serão tomadas medidas pelo senhor Cameron para que o rapaz ande sempre de calças coladas ao corpo, pregam-lhas? O magnate Murdoch disse para deixarem em paz o rapaz.
Assange não foi apanhado nu, mas estará na Embaixada do Equador em residência vigiada, a acreditar nos democratas conservadores, pelo resto da vida fora. O Ministro da Segurança inglês diz que mal saia da Embaixada será preso e extraditado para a Suécia onde, como se diz, alegadamente terá violentado não uma rapariga, mas duas – terá este jornalista, na Suécia especificamente e apenas, ganho qualidades de predador alfa com cio? O que é que levará os tribunais suecos a obrigá-lo a julgamento? Provas fotográficas, vídeos? Feitos por quem? Pelas moças?
Os assessores do governo português oriundos de instituições privadas, nenhum deles que se saiba apanhado de calças na mão nem de nu integral, ao contrário certamente dos perversos dos assessores público, terão direito aos subsídios que a todos os outros foram cortados. O que explicará isto? Dois pesos e duas medidas? Mas quem duvida que este é o governo dos dois pesos e duas medidas? Para que serve o que é público que não seja para engrossar os lucros de um micro universo privado cada vez mais restrito?

Fernando Mora Ramos

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