quarta-feira, 30 de maio de 2012

Castelhanos e dívida

A sandice entrou na normalidade com estes protagonistas governativos. O disparate, de tão assíduo, faz passar a ideia de que é também um efeito da crise e porventura um modo de a combater – à força de disparatar talvez a dívida se espante, qual pássaro e se deslocalize para paragens de crescimento. Esta do Aguiar Branco dizer que a dívida, derrotá-la, é como em tempos fizemos expulsando os castelhanos para reaver a independência, ganha o campeonato dos disparates ao Álvaro e ao Passos, concorrentes diferentes, mas ambos bons na asneira. Do Álvaro são regulares os pontapés na língua e o optimismo ultra, a roçar a asnice, raciocínio silogístico e esquemático, do Passos os excessos paternalistas de tutor do indígena pátrio não vêm melhoras: dois estilos, ou melhor, a falta de um estilo de estadista, nos dois.
 Que estará Aguiar Branco a pensar? Será que o imaginário de um Ministro da Defesa mete sempre castelhanos por razão patriótica? Basta ser da defesa para sonhar com Castela? O advogado brindar-nos-ia com a mesma metáfora plena de profundo significado histórico?
 Não tarda estaremos nos jornais de referência, os vários, a seguir a implementação da táctica do quadrado na resolução do passivo sob forma altamente explicada por diversos inteligentíssimos líderes de opinião encartados. A dívida levantar-se-á, dirão, do alto da sua arrogância especulativa, convocará as suas tropas mercenárias armadas de altas taxas de juros, napalm mais eficaz que a bomba de neutrões, e Aguiar Branco, na pele do Condestável e na mesma Aljubarrota da humilhação a Castela, lanças em riste, esperará pela carga com a certeza de que a mesma formação, revivificada e benzida neste 2012 fatídico, derrotará os apátridas sem rosto que nos querem reduzir à nova escravatura, a da mão-de-obra gratuita e do pé descalço servil diante do turista sempre amado.
 Eles lançam na linha da frente as agências de rating, capazes de ataques sofisticados em rede e convergências várias e nós atiramos-lhes com o que vier à mão, azeite de Moura a ferver e couve galega, aliada de boa hora, o que os fará recuar e procurar segunda investida depois de reagrupada a cavalaria. Nessa hora, a coragem dos nossos peões redobrará pela mola da fé e com ajuda da Virgem eles não terão nenhuma hipótese. Alguns, como rezará a História, borrar-se-ão na cueca de couro com H grande, outros babar-se-ão de medo e amuarão, afrouxando então os cavalos numa verdadeira deserecção solidária com aquele que na sela lhe finca as esporas na ilharga, outros ainda terão a armadura toda enferrujada pelas sequelas lacrimais do medo. Aos que fugidos sem saber para onde a padeira apanhar, já se sabe o que fará, com a vantagem de que hoje o forno é eléctrico e para toneladas de farinha: dará para enfornar mais do que um exército inteiro de cobardes, logística e tecnologia no sítio da pá da padeira, já no Museu da Pátria. Não terão hipótese, a grelha será o destino merecido.
 Em sintonia com Aguiar Branco, nova encarnação de Dom Nuno, todos nós vamos colocar nas janelas das nossas casas bordados com o famosos quadrado da táctica, de modo a inspirar também aqueles que com Branco estarão lá onde o quadrado de formar. Não faltarão voluntários para pôr as forças da Dívida no seu lugar aplicando-lhes de seguida o devido correctivo, isto é, obrigando-os a meter as altas taxas de juro pelos altos cus acima. Viva Portugal!

fernando mora ramos – português de gema

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