terça-feira, 22 de maio de 2012

Secretas e secretos de

Este é um país de intrigas, quem as tece tem o poder de mexer cordelinhos e ao fazê-lo, de entreter o pagode, uns de umas famílias com pedigree justiceiro e outros de outras com vocação negocista – do que se trata sempre é de negócios, não duvidem e nisso até as secretas se metem e se o país fosse invadido por elefantes marinhos nem dariam por isso, nem preventivamente nem na hora certa de acordar. Cada intriga, notícia e enredo, rende rios de tinta, declarações apaixonadas, comentários chocarreiros, altos momentos de política interna assumidos pelos protagonistas marcados para a cena diária e depois tudo desemboca na anedota que geneticamente nos tem presos e é enquanto forma breve – é questão de fôlego e reverso da nossa capacidade filosófica – e forma síntese, a sua revelação e resolução final, o que fica para a história das lembranças e faz colunas de humor, ou sobes e desces, em notícias picantes para enchimento. Na realidade a revelação do que é relevante no meio de um oceano de graças ambiente, a maior parte delas sem vitalidade nem humor irónico, perde-se na multiplicação dessas partes, até á náusea, que justamente tornam o enchido saboroso e mais para o estômago que para a cabeça. Será o facto de termos os tais novecentos anos de história e de portanto tudo o que se expressa é a senilidade do corpo, a cabeça, a dizê-lo? As idades dos países têm uma relação óbvia com as suas vitalidades e identidade expressiva? O que é verdade é que este governo cheio de modernos, menos modernos que os do último, esses muito mais eco-renováveis, é um conjunto de anciães – a visão é trauliteira, sob os modos corteses do senhor Primeiro ministro e absolutista – cujo defeito principal, para senhores de velhas políticas financistas, é serem absolutamente inexperientes. A quantidade de disparates governativos e de omissões ultrapassa na listagem possível e na estatística da asneira, aquilo que todos os governos até este cometeram de mau a péssimo. O que é verdade é que estes anos todos de democracia não nos libertaram da dependência, nem da iliteracia, nem do atraso e somos de facto, pelas estatísticas, um país de pessoas tristes e insatisfeitas – é uma estatística estranha, esta da tristeza, mas ela está aí e creio que foi feita pela certeza do que o telefone permite e alcança. Deve ser qualquer coisa do género: pergunta o da estatística a quem atende: sente-se triste (falo da empresa tal e etc.) e responde a pessoa: estou desempregado. E obviamente que a resposta dá para dois itens, o do emprego e o da tristeza, este último por extrapolação. E vamos portanto tendo este retrato que fazem a colar-se-nos à pele irremediavelmente, pois a estatística derrota qualquer argumento e principalmente qualquer visão de futuro, é definitiva e tem uso imediato, justifica medidas. Esta da tristeza justificará por certo um próximo investimento em máquinas de cócega e riso de médio e curto prazo que sirvam pragmaticamente para animar a malta e consequentemente melhorar as metas produtivas e o crescimento, esse excluído que Hollande põe agora no mapa e que Merkel nem quer ver. Mas nós de facto pasmamos: o ministro Relvas ameaça uma jornalista por causa de umas mensagens para o telemóvel – perigosos SMS’S – que entretanto apareceram onde não deviam dizendo que revela coisas do seu perfil e vida privada? Será possível? Se isto se passasse entre certas pessoas e só entre elas, de uma mesma família por exemplo, era como o outro, é o tamanho das coisas e das pessoas. Mas não, é assunto nacional, e porventura, internacional – na verdade, a produção de escândalos ao serviço do anedotário é coisa mais nossa e só raramente uma anedota nossa faz rir uma criatura de humor britânico ou de visão chinesa. Não quero cometer injustiças e portanto devo dizer que sou apreciador do humor alentejano e foi no Alentejo que vi, pela primeira vez, um elefante voar. Mas neste caso estamos noutro espaço mental e numa tradição filosófica popular que é e foi surrealista muito antes do surrealismo. É uma questão de outra percepção do tempo e do espaço e consequentemente da vida, da nossa relevância irrelevante. É na realidade extraordinário que tenhamos esta queda para nos perdermos no insignificante e fazer dele a montanha. Disto tudo nem a saída de Relvas acontecerá, nem a política se refará qualificada, ela que tanta necessidade tem de reabilitar-se aos olhos de todos, pois como sabemos nem a justiça nem a política existem. E continuaremos entusiasticamente a esbracejar no meio das falsas evidências como se travássemos guerras finais. De alecrim e manjerona claro.
fernando mora ramos

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